Raças Autóctones do Planalto Mirandês

Guardiãs da Tradição e da Biodiversidade

O Planalto Mirandês, terra de tradições seculares, paisagens agrestes e saberes ancestrais, é também o berço de algumas das mais emblemáticas raças autóctones portuguesas. Estes animais, profundamente ligados ao modo de vida rural da região, representam não apenas uma herança genética valiosa, mas também um património cultural, económico e ambiental de grande importância para a identidade transmontana.

Bovino da Raça Mirandesa

Com origens que remontam ao Bos taurus brachycerus, os bovinos mirandeses distinguem-se pela sua impressionante capacidade de adaptação às duras condições do nordeste transmontano. Trata-se de uma raça de grande corpulência, de temperamento dócil mas vigoroso, e com uma conformação física robusta e harmoniosa. Antigamente utilizados tanto para trabalho como para carne, são hoje sobretudo apreciados pela excelência da sua carne, reconhecida com Denominação de Origem Protegida (DOP).

O seu legado é vasto: desde o seu papel no desenvolvimento da agricultura tradicional até à sua difusão por quase todo o território nacional nos séculos XIX e XX. A criação da Associação de Criadores da Raça Mirandesa e o reconhecimento oficial do seu Livro Genealógico consolidaram os esforços de conservação e valorização desta raça nobre.

Burro de Miranda – Raça Asinina de Miranda

Figura carismática das paisagens do planalto, o Burro de Miranda é um símbolo de resistência, rusticidade e utilidade. Com pelagem castanha escura e porte imponente, este animal é há muito um auxiliar precioso nas tarefas agrícolas e no transporte, especialmente em terrenos difíceis. A sua morfologia única, movimentos amplos e temperamento resiliente tornam-no perfeitamente adaptado ao meio.

Hoje, para além das suas aptidões tradicionais em tração e carga, o Burro de Miranda é cada vez mais valorizado por novas funções, desde o ecoturismo até à terapia assistida, passando ainda pela produção de leite, com potencial farmacêutico e cosmético. A Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino (AEPGA) tem desempenhado um papel fundamental na salvaguarda da raça, promovendo o seu uso sustentável e a sua conservação genética.

Cão de Gado Transmontano

Guardião incansável dos rebanhos nas duras serranias do nordeste, o Cão de Gado Transmontano é um verdadeiro defensor do equilíbrio entre homem, gado e natureza. De grande porte, olhar profundo e natureza calma mas destemida, este cão molossóide é conhecido pela sua bravura na defesa contra o lobo-ibérico, ainda presente na região.

Originário do Neolítico, este cão tem acompanhado os pastores ao longo de gerações, moldando-se ao ambiente e às exigências da pastorícia extensiva. Hoje, o seu papel é vital na convivência entre o lobo e a atividade humana, sendo uma ferramenta indispensável na proteção da biodiversidade e na sustentabilidade das práticas agro-pastoris.

Churra Galega Mirandesa – Ovelha do Planalto

A ovelha churra galega mirandesa é o retrato vivo da pastorícia tradicional e da simbiose entre o homem e o meio. Com um porte modesto, mas grande rusticidade, adapta-se aos relevos acidentados do planalto e às exigências de um pastoreio extensivo. Produz carne de elevada qualidade – o Cordeiro Mirandês DOP – e lã usada no fabrico de peças emblemáticas como a Capa de Honras Mirandesa, símbolo maior da cultura mirandesa.

Resultado de séculos de seleção e adaptação, esta raça é um dos pilares da economia rural da região, contribuindo para a fixação das populações e a valorização do território. A Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Galega Mirandesa assegura a sua conservação e melhoria genética, preservando assim um dos patrimónios mais autênticos do mundo rural português.